De que forma a acidificação dos oceanos pode alterar o comportamento das espécies Marinhas

Com o projeto ODORACID, Zélia Velez, investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), na Universidade do Algarve, está a tentar perceber como é que a acidificação dos oceanos influencia as alterações neuronais envolvidas nas alterações de comportamento de peixes, de forma a conseguir prever o seu impacto ambiental e a tentar definir estratégias para menorizá-las.

Ação ClimáticaProteger a Vida Marinha

O aumento do dióxido de carbono (CO2) atmosférico está a provocar o aquecimento global e a acidificação dos oceanos, que resulta da diminuição do pH e do aumento da acidez causada pelo gás carbónico que se dissolve na água, alterando o seu equilíbrio químico. Com o projeto ODORACID, Zélia Velez, investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), na Universidade do Algarve, está a tentar perceber como é que a acidificação dos oceanos influencia as alterações neuronais envolvidas nas alterações de comportamento de peixes, de forma a conseguir prever o seu impacto ambiental e a tentar definir estratégias para menorizá-las.

Nos últimos anos, os níveis de CO2 têm aumentado de forma alarmante e grande parte dissolve-se no Oceano, o que leva a alterações comportamentais de muitas espécies de peixes. Há sérias preocupações sobre o impacto na biodiversidade e nos ecossistemas marinhos.

Este projeto pretende avaliar os efeitos da acidificação do oceano sobre a perceção de vários odores pelo epitélio olfativo e o posterior processamento da informação sensorial em diferentes níveis do sistema nervoso central.

Simultaneamente, será também avaliada a capacidade dos peixes para detetar alterações na concentração de iões na água, mais especificamente aqueles que estão subjacentes à acidificação do oceano. Por exemplo, contextualiza a investigadora, "algumas espécies de peixes do recife de coral quando expostas às condições que são estimadas para o final deste século, são atraídas pelo cheiro dos predadores e repelidas pelo cheiro da própria comida. É fácil compreendermos que tais alterações comportamentais poderão comprometer a sobrevivência destas espécies".

O objetivo principal deste projeto é compreender quais são as alterações que ocorrem no cérebro dos peixes que levam a estas alterações comportamentais, usando uma espécie de elevada importância ecológica e económica na aquicultura como modelo experimental, o linguado senegalês (Solea senegalensis). Porém, os resultados poderão ser aplicados a muitas outras espécies.

Os estudos na área do olfato estão limitados a alterações comportamentais em peixes do recife de coral expostos a elevada quantidade de CO2, e não existem estudos com espécies costeiras e/ou de importância económica. Embora haja evidências de que as concentrações atmosféricas de CO2 previstas para o final deste século terão fortes efeitos sobre comportamentos relacionados com a perceção olfativa em peixes de recife, nada se sabe sobre os mecanismos celulares envolvidos nestas alterações. Prevê-se que a acidificação do oceano cause alterações significativas no conteúdo iónico da água do mar, e a capacidade dos peixes para se adaptarem a tais mudanças depende claramente da sua capacidade de detetá-las.

O que se sabe é que o aquecimento e a acidificação dos oceanos estão a originar a perda de biodiversidade e a alterar a distribuição destas espécies. As alterações comportamentais registadas poderão comprometer a sobrevivência de muitas espécies de peixes e o colapso do ecossistema marinho, tal como se conhece.

“Perceber as consequências fisiológicas da acidificação dos oceanos, permite-nos avaliar a capacidade de adaptação das espécies e perceber quais são as mais vulneráveis a este fenómeno”, explica Zélia Velez.

Para a investigadora, "no futuro este tipo de conhecimento poderá ajudar a traçar estratégias para minimizar o impacto tanto a nível ambiental como a nível das aquiculturas”.

Inserido no Objetivo 14, “Proteger a Vida Marinha”, este projeto centra-se numa ação muito concreta, tendo como meta “minimizar e enfrentar os impactos da acidificação dos oceanos, inclusive através do reforço da cooperação científica em todos os níveis”.

Zélia Velez

Zélia Velez é Licenciada em Biologia, Doutorada em Neurofisiologia e Química Analítica e investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve.