Dia da UAlg / Doutoramento Honoris Causa

Mário Ruivo lança repto para reativar a Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar

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A Universidade do Algarve atribuiu o título de doutor honoris causa ao professor Mário Ruivo, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e investigador pioneiro na defesa dos oceanos, na cerimónia do 37º aniversário da UAlg, que decorreu às 16h30 do dia 14 de dezembro. O novo doutor defendeu que é de prever que Portugal se venha a afirmar como um dos maiores territórios marítimos do Mundo, mas em dia de homenagem deixou o repto ao Ministério do Mar “de assumir o papel que lhe cabe neste processo, reativando a Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar como primus inter pares”.

Mário Ruivo (ver discurso aqui), que foi apadrinhado por João Guerreiro (ver discurso aqui), ex-reitor da UAlg, brindou o Grande Auditório do Campus de Gambelas, com cerca de 400 pessoas, com uma verdadeira evocação ao Mar / Oceano. “Tantas designações para um espaço tão misterioso e hostil ao bicho Homem e que, desde sempre, tanta curiosidade, inconsciente e conscientemente, despertou ao longo de séculos e séculos”, mencionou o homenageado. No seu entender “caminhamos para uma era de grandes responsabilidades na gestão sustentável do Oceano com base científica, nacional, regional e global. É de prever que Portugal se venha a afirmar como um dos maiores territórios marítimos do Mundo, nomeadamente mediante o processo de extensão da plataforma continental portuguesa constituindo uma oportunidade e um desafio a longo prazo”. Mário Ruivo alerta para “o agravamento do desfasamento entre este estado de coisas e o imperativo de assegurar bases científicas sólidas para a realização dos potenciais dos espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional: a nossa posição estratégica no Atlântico, a maior ZEE dos Estados Membros da União Europeia e a vastíssima Plataforma Continental em vias de alargamento no âmbito do pedido submetido pelo Governo Português às Nações Unidas”. Mas, para o novo doutor, o potencial não chega. “Há que haver capacidade intrínseca para encarar as necessidades”, interpela. “Torna-se imperioso um verdadeiro incentivo à formação de recursos humanos e à atribuição de condições que garantam a continuidade da investigação com a duração necessária, para que possamos, de facto, afirmar-nos como grande potência marítima mundial. Porque não chega afirmar continuamente que temos “potenciais”, argumenta Mário Ruivo. Na sua opinião, “há que concretizar mediante vontade política, com o apoio social requerido, e tal objetivo não se concretiza sem quadros qualificados.” O homenageado reconhece que “a Universidade do Algarve tem estado particularmente ativa na reflexão e mobilização da comunidade científica do mar, tem contribuído para uma análise factual da situação e delineado elementos para uma estratégia que responda aos requisitos”.

Em jeito de conclusão, deixa um recado: “parece-nos pois relevante ser tempo de reativar a Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar (CIAM) de forma a facilitar uma ação concertada respeitante à estratégia e mobilização dos recursos necessários para a investigação e governação dos espaços marítimos nacionais, integrando, efetiva e finalmente, a comunidade científica e tecnológica como parceiro na decisão política.”

Reitor fala de «dificuldades, conquistas e desafios» em dia da Universidade do Algarve

António Branco (ver discursos aqui e aqui) referiu em jeito de balanço que “a dificuldade mais assinalável do ano de 2016 relacionou-se com a execução orçamental”. O responsável máximo da Academia Algarvia centrou o seu discurso em três termos fundamentais: «dificuldades, conquistas e desafios», sendo que com os dois primeiros, «dificuldades e conquistas», se referiu a 2016, remetendo «os desafios» para 2017.

“De facto, no início do ano as nossas estimativas eram muito preocupantes, prevendo-se, do ponto de vista orçamental, uma despesa superior à receita em quase 4 milhões de euros. Perante este cenário, foram identificadas medidas extraordinárias que contribuíssem para mitigar o grande défice estimado no início de 2016. António Branco assumiu “a natureza muito severa de algumas dessas ações”. Contudo, garantiu que a UAlg terminará o ano numa situação muito diferente da inicialmente prevista. “Graças a um imenso esforço coletivo, a níveis de contenção e sacrifício anormalmente elevados e à melhoria de alguns dos indicadores de receita, conquistámos essa montanha, só tendo sido necessário requisitar 700 mil euros do fundo de coesão interuniversitário”.

Se o défice de estrutura praticamente residual (cerca de 1,8%) for entendido como uma primeira conquista, António Branco elencou como a segunda dificuldade conquistada, tendo em conta a conjugação de uma grande complexidade de fatores, o facto de no presente ano letivo, pela primeira vez desde 2010, aumentar o total de estudantes de formação inicial da Universidade do Algarve. Mas o significado mais gratificante dessa progressão positiva está no sucesso do recrutamento internacional. Entre 2015 e 2016, a UAlg conseguiu quadruplicar o total de estudantes internacionais inscritos numa licenciatura a tempo inteiro, passando de cerca de 50 para mais de 200. Refira-se ainda que a manter este fluxo de novos estudantes, daqui a dois ou três anos a UAlg poderá ter a estudar a tempo inteiro mais de 600 estudantes internacionais, a que acrescem todos os outros que chegam à Academia através de programas de mobilidade.

Das várias conquistas do ano de 2016, António Branco salientou ainda a criação do Centro Académico de Formação e Investigação Biomédica do Algarve, em colaboração com o Centro Hospitalar do Algarve, e a recente inauguração do nó nacional do Laboratório Europeu de Recursos Biológicos Marinhos, liderado, em Portugal, pelo Centro de Ciências do Mar da UAlg, e que reúne instituições de investigação de nove países europeus.

Na última cerimónia em que participou como presidente do Conselho Geral deste mandato, Luís Magalhães (ver discurso aqui) não quis deixar de referir-se ao momento que a Academia atravessa, “desde os cortes da austeridade, um período de grande estrangulamento orçamental, porque foram cortes cegos que deixaram as dotações abaixo das necessidades efetivas”. O presidente do Conselho Geral considerou ainda que também “a dimensão e a natureza não central da Universidade do Algarve fazem com que seja permanentemente necessário que se adiante em relação a outras universidades, aproveitando a flexibilidade que a dimensão lhe permite, em aproveitar novas oportunidades formativas, modernas, multidisciplinares, com novos métodos e ambientes de aprendizagem, e ligadas à sociedade envolvente, tanto em objetivos como de atividades dos estudantes a creditar curricularmente”.

A cerimónia contou ainda com as intervenções da representante dos funcionários não docentes, Valentina Purificação (ver discurso aqui), do presidente da Associação Académica, Rodrigo Teixeira (ver discurso aqui), terminando com a intervenção do representante dos docentes, Pedro Castelo Branco.

Durante a cerimónia foram ainda entregues as medalhas da Universidade aos funcionários que completam 25 anos de serviço, os diplomas aos novos doutores e, com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, foi também atribuído o Prémio Universidade do Algarve aos diplomados com mérito no ano letivo de 2014/2015.

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