Monitorar as propriedades do oceano num cenário de alterações globais

Paulo Relvas é investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e integra o European Multidisciplinary Seafloor and water column Observatory - EMSO-PT, um projeto integrado no Roteiro Nacional de Infraestruturas de Investigação.

Ação ClimáticaProteger a Vida Marinha

 

Paulo Relvas é investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) e integra o European Multidisciplinary Seafloor and water column Observatory - EMSO-PT, um projeto integrado no Roteiro Nacional de Infraestruturas de Investigação.

O EMSO-PT integra o consórcio europeu EMSO-ERIC, uma infraestrutura com oito observatórios que se encontram nas águas europeias, em três locais de teste, distribuídos desde os Açores ao Mar Negro e das Canárias à Irlanda. Um dos observatórios situa-se a sudoeste do Cabo de São Vicente, em Sagres, no designado Iberian Margin Node.

Na Plataforma Continental será instalada uma estrutura para observação contínua de vários parâmetros oceanográficos ao longo da coluna de água. O objetivo é monitorar neste local sensível a variabilidade de pequeno e longo período das propriedades do oceano num cenário de alterações globais.    

O CCMAR é responsável pela instalação de uma amarração fixa sobre a plataforma continental, a cerca de 200 metros de profundidade, para observar diversos parâmetros oceanográficos ao longo da coluna de água.  “Trata-se de uma estrutura autónoma composta por um carrinho, que se desloca em "yo-yo" ao longo de um cabo vertical, por ação da agitação marítima, e que realiza um perfil vertical a cada 30 minutos, amostrando a temperatura, salinidade, oxigénio dissolvido, turbidez e clorofila”, explica o investigador. “Será complementado por um correntómetro acústico, montado no fundo do oceano, que observa as correntes oceânicas ao longo da coluna de água”, acrescenta.

Segundo Paulo Relvas, “esta estrutura deverá constituir um observatório submarino permanente e os dados serão transmitidos para terra em tempo quase real”.

As operações de instalação serão realizadas em colaboração com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que disponibilizará os meios navais necessários.

É evidente um aquecimento global do planeta Terra e o Oceano é o grande estabilizador do clima. Ao reter tremendas quantidades de energia, sem grandes variações na sua temperatura, permite que esta energia acumulada à superfície do planeta, devido ao efeito de estufa, não provoque alterações mais abruptas no clima da Terra. O conhecimento das alterações na estrutura e funcionamento do Oceano, como consequência das alterações climáticas, ganha enorme relevância na região costeira.

Este será o primeiro observatório permanente para monitorização em continuo da coluna de água na plataforma continental portuguesa. Será possível começar a construir uma série temporal longa da estrutura vertical do oceano, a qual permitirá avaliar como reage o oceano costeiro às alterações climáticas e a ações antropogénicas, tanto locais como remotas.

A instalação desta estrutura na região do Cabo de São Vicente permite monitorar uma das regiões mais sensíveis do oceano costeiro, onde se desenvolvem estruturas oceanográficas com grande impacto no funcionamento do ecossistema. É também a região de maior concentração de tráfego marítimo de Portugal, com relevo para os navios petroleiros.

As ações a desenvolver neste projeto vão ao encontro do Objetivo 13,  "Ação Climática", e  do 14, "Proteger a Vida Marinha", definidos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

Paulo Relvas

Paulo Relvas é Licenciado em Física, Doutorado em Physical Oceanography e Investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve.