A Ria Formosa como armazém de carbono azul

O grupo ALGAE-Ecologia de Plantas Marinhas, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), através do projeto RiaValue, coordenado por Rui Santos, avaliou os serviços prestados pela Ria Formosa, com o objetivo de perceber a sua importância social e económica e contribuir para melhorar as medidas e políticas de conservação e gestão deste Parque Natural.

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Do ponto de vista das alterações globais, os ecossistemas de sapal e de ervas marinhas contribuem com um sequestro anual de CO2 que é cerca de 40 vezes superior ao das florestas tropicais, boreais ou temperadas. O grupo ALGAE-Ecologia de Plantas Marinhas, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), através do projeto RiaValue, coordenado por Rui Santos, avaliou os serviços prestados pela Ria Formosa, com o objetivo de perceber a sua importância social e económica e contribuir para melhorar as medidas e políticas de conservação e gestão deste Parque Natural.

A Ria Formosa é uma das lagoas costeiras mais importantes do sul da Europa. É uma lagoa mesotidal que se estende por 55 km ao longo da costa sul de Portugal. As suas ervas marinhas e sapais estão entre os ecossistemas mais valiosos do planeta em termos de fluxo de serviços e de valores que suportam. Estes ecossistemas são reconhecidos como habitats alvo de conservação (Diretiva Habitats da UE), bem como elementos biológicos indicadores do estado ecológico das águas costeiras (Diretiva-Quadro e Estratégia Marinha da Água da UE). No entanto, são altamente vulneráveis aos impactos humanos, como por exemplo a quantidade de nutrientes e os distúrbios físicos, tanto locais, como globais, que têm resultado em perdas generalizadas destes habitats. Nas últimas décadas, um terço dos ecossistemas de sapal e de ervas marinhas de todo o mundo foi destruído por impactos antropogénicos.

A Ria Formosa é um armazém de Carbono Azul. “No que respeita especificamente ao Carbono Azul, que é sequestrado pela vegetação costeira, pretendemos avaliar os stocks e as taxas de sequestro de sapais e ervas marinhas do Nordeste Atlântico, desenvolver modelos preditivos com base nos parâmetros ambientais e biológicos que os determinam, compreendendo quais as razões para o seu declínio e como é que os níveis máximos históricos podem ser restaurados”, explica Rui Santos.
Uma questão-chave desta investigação é a contabilização dos fluxos nacionais de CO2 e de outros gases que contribuem para o efeito de estufa, como o metano, para que a contribuição dos ecossistemas de sapal e de ervas marinhas possa ser incluída no inventário nacional de gases de efeito estufa a que Portugal está obrigado pelo Acordo de Paris, da Organização das Nações Unidas.

No fundo, contextualiza o investigador, “investigamos como é que os ecossistemas de sapal e de ervas marinhas contribuem para o nosso bem-estar, purificando as águas das zonas costeiras, fornecem recursos pesqueiros e ajudam a mitigar as alterações globais. Estes ecossistemas retiram os nutrientes provenientes da agricultura e dos efluentes urbanos, servem de maternidade e de berçário para muitas espécies e contribuem para sequestrar o CO2 que é lançado para a atmosfera”.

As emissões de CO2 para a atmosfera continuam a crescer, aumentando o efeito de estufa. Desde os anos 70 que a temperatura do oceano tem aumentado, correspondendo a mais de 90% do excesso de temperatura do sistema climático global. Para além da redução das emissões é absolutamente necessário desenvolver Soluções Baseadas na Natureza, que aumentem o sequestro de carbono para que o aumento da temperatura e da acidificação dos oceanos à escala global não atinja níveis que poderão ser catastróficos. “A nossa linha de investigação contribui para que isso seja possível, através da otimização do sequestro de carbono pelos ecossistemas costeiros, que inclui a sua conservação, a reversão do seu declínio, que está a resultar na libertação das reservas de carbono, depositadas há centenas ou milhares de anos nos seus sedimentos, para a atmosfera e a identificação das zonas férteis para o seu restauro”, refere Rui Santos.

Uma componente fundamental deste projeto é a sua divulgação, com o objetivo de melhorar a perceção do público para a necessidade da conservação destes ecossistemas costeiros. Para tal, foi criada uma Rede de Educação Ambiental sobre os Serviços dos Ecossistemas Costeiros, (REASE), que conta com a participação de 14 Agrupamentos de escolas do Sotavento Algarvio, de todos os níveis de ensino. As atividades desta rede incluem a formação de professores (mais de 80 professores de 20 escolas) e o desenvolvimento de um projeto de avaliação do carbono azul pelas escolas do Algarve e de Setúbal, com mais de 1000 alunos envolvidos.
Enquadrado facilmente em três Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, "Educação de qualidade" (objetivo 4), "Ação climática" (objetivo 13) e "Proteger a vida marinha" (objetivo14), o RiaValue visa contribuir para a melhoria da qualidade de vida das populações costeiras e para a redução dos níveis de CO2 na atmosfera.

Rui Santos

Rui Santos é  Licenciado em Biologia, Doutorado em Biologia e investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve.