Soluções de Gestão de Recarga de Aquíferos

O acrónimo do projeto MARSOLut resulta do título “Managed Aquifer Recharge Solutions”, que em português significa “Soluções de Gestão de Recarga de Aquíferos”. Coordenado por José Paulo Monteiro, investigador do Centro de Ciências e Tecnologias da Água (CTA), este projeto “Marie Curie” consiste em usar o volume de espaço vazio existente nos aquíferos acima do nível freático (que é gigantesco).

Água Potável e Saneamento

O acrónimo do projeto MARSOLut resulta do título “Managed Aquifer Recharge Solutions”, que em português significa “Soluções de Gestão de Recarga de Aquíferos”. Coordenado por José Paulo Monteiro, investigador do Centro de Ciências e Tecnologias da Água (CTA), este projeto “Marie Curie” consiste em usar o volume de espaço vazio existente nos aquíferos acima do nível freático (que é gigantesco). Uma analogia frequentemente usada para exprimir de forma simples o conceito de “Gestão da Recarga” consiste em comparar os Aquíferos com uma “conta bancária" onde se armazena a água nos períodos em que não existem problemas de escassez para a utilizar depois nos períodos de crise.  Em alternativa, é igualmente possível injetar água diretamente na zona saturada de forma a recuperar aquíferos sobre-explorados.

Mas o que são na verdade os aquíferos e qual a sua importância? Um aquífero é toda a formação geológica subterrânea capaz de armazenar água e com permeabilidade suficiente para permitir que esta se movimente. São verdadeiros reservatórios subterrâneos formados por rochas com características porosas e permeáveis que retêm a água das chuvas que se infiltra pelo solo e a transmitem, sob a ação de um diferencial de um potencial hidráulico, para que abasteça rios e poços. São também os aquíferos que permitem que os cursos de águas superficiais (rios, lagos e zonas húmidas) se mantenham estáveis e que, ao mesmo tempo, regulam as cheias através da infiltração da água da chuva.

A Gestão de Recarga de Aquíferos já é muito importante na prática quotidiana da gestão de recursos hídricos em muitas partes do mundo, mas não em Portugal.  No Algarve já foram feitas várias experiências piloto que se mostraram bastante eficazes, através do projeto que a equipa desenvolveu anteriormente, o MARSOL.

 “Com o MARSOLut pretendemos criar recursos humanos muito bem preparados para trabalhar com este tipo de metodologias, contribuindo, assim, para a solução dos problemas de gestão da Água na Europa da próxima geração”, explica José Paulo Monteiro.

O investigador refere ainda que, para isso, estão “a desenvolver 12 projetos de doutoramento articulados entre si, de forma a dar resposta a todo o tipo de necessidades colocadas em projetos de Gestão da Recarga de Aquíferos”.

No caso do Algarve está a estudar-se a solução para problemas de gestão de recursos hídricos já identificados e que exigem a tomada de medidas no período 2021-2027. Este período corresponde ao terceiro ciclo de planeamento dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica desenvolvidos em todos os países da União Europeia, de acordo com as exigências da Diretiva Quadro da Água, que é o principal instrumento da Política da União Europeia, estabelecendo um quadro de ação comunitária para a proteção das águas de superfície interiores, das águas de transição, das águas costeiras e das águas subterrâneas.

Esses problemas são em alguns casos quantitativos, traduzindo-se em desequilíbrios no balanço entre disponibilidades e consumos; e noutros qualitativos, relacionados com a distribuição espacial e evolução temporal da qualidade da água.
Com este projeto, problemas de drenagem em áreas planas e inundações, exacerbados, por exemplo, pela interceção da chuva em estufas, podem ser resolvidos ou atenuados pela recarga dessa água nos aquíferos. Simultaneamente, explica o coordenador do projeto, “reforça-se a reposição dos níveis das águas subterrâneas, combate-se a intrusão salina de aquíferos costeiros e, de caminho, podem corrigir-se problemas de qualidade da água, já que os aquíferos são sistemas naturais que ajudam a manter a sua qualidade.

É bem conhecida a tendência para a alteração do ciclo hidrológico, detetada ao longo das últimas décadas, levando à diminuição dos valores anuais médios de precipitação e à recarga de aquíferos, com a concentração de períodos de precipitação curtos e intensos.

Segundo o investigador, “este tipo de problemas não pode ser resolvido apenas recorrendo aos métodos tradicionais de gestão da água, usados intensivamente no século passado”. O tempo está a esgotar-se. No presente e futuro, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas, florestas, zonas húmidas, rios e aquíferos, é uma das metas do Objetivo 6 do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (Água Potável e Saneamento). A Gestão de Recarga de Aquíferos deverá ter uma importância crescente nas estratégias usadas com este fim nas próximas gerações. Este projeto, que além de Portugal envolve ainda a Alemanha, a Espanha, a Itália, Malta, Israel e Grécia, irá dar o seu contributo para o desenvolvimento sustentável, para a resolução dos problemas de água e saneamento à escala local e global.

José Paulo Monteiro

José Paulo Monteiro é Licenciado em Biologia e Geologia, Mestre em Geologia Aplicada, Doutorado em Hidrogeologia e investrigador do Centro de Estudos e Desenvolvimento: Centro de Ciências e Tecnologias da Água (CTA) da Universidade do Algarve.