Como foram domesticadas as leguminosas e como se adaptaram a climas tão distintos

“Como é que grupos humanos passaram da caça-recoleção para a agricultura?” é o ponto de partida para o estudo de Hugo Rafael Oliveira, investigador no Centro Interdisciplinar para Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve e responsável pelo projeto OWLDER - Old World Legume Domestication, Evolution and Resources.

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“Como é que grupos humanos passaram da caça-recoleção para a agricultura?” é o ponto de partida para o estudo de Hugo Rafael Oliveira, investigador no Centro Interdisciplinar para Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve e responsável pelo projeto OWLDER - Old World Legume Domestication, Evolution and Resources.

Com o previsto aumento da população e com as alterações climáticas, alimentar o mundo tornar-se-á um problema. Segundo o investigador “estudar a biodiversidade de ancestrais selvagens e variedades tradicionais e perceber como sociedades do passado usavam as leguminosas para criarem formas sustentáveis de agricultura, poderá ajudar a responder a estes desafios da segurança alimentar”.
Hugo Oliveira estuda o processo da domesticação de lentilhas e ervilhas no Médio-Oriente e de feijão-frade na África Ocidental.

Na sua investigação sequencia genomas de ancestrais selvagens e variedades tradicionais destas espécies, reconstruindo assim a história destas três leguminosas, e também a forma como a sua biodiversidade pode ser usada para obter variedades mais bem adaptadas às alterações climáticas, contribuindo para uma fonte sustentável de proteínas para a segurança alimentar.

Como foram as leguminosas domesticadas? Pode a sua biodiversidade explicar a adaptação tão rápida a climas tão distintos como, por exemplo, norte de África e Escandinávia? Estas são as perguntas a que o seu projeto procura dar respostas.

A importância das leguminosas para a segurança alimentar global é evidenciada pela ONU ao ter declarado 2016 como o Ano Internacional das Leguminosas. Anualmente, o seu cultivo está avaliado em cerca de 31 biliões de dólares, fornecendo 33% das proteínas na dieta humana.

Na opinião do investigador, “as leguminosas são cada vez mais atraentes para a agricultura sustentável, devido à pluralidade de usos, alto valor nutricional, capacidade para altos rendimentos em diferentes ambientes, papel fundamental em sistemas agrícolas resilientes e especialmente pela capacidade de fixação de nitrogénio nos solos”.

Embora abordando uma questão arqueológica, Hugo Oliveira refere que “os dados genómicos gerados poderão ser utilizados para a produção de novas variedades adaptadas às alterações climáticas”. Segundo o mesmo, “parceiros como empresas agrícolas, quer na Europa, quer em Africa, poderão beneficiar diretamente dos dados que serão colocados em bases de livre-acesso”.

Paralelamente, explica:  “discutir-se-ão estratégias de resiliência agrícola com Organizações Não Governamentais (ONGs) e grupos de reflexão, a fim de destacar como as leguminosas contribuíram para a segurança alimentar nas sociedades passadas e como elas poderão fazê-lo no futuro”.

O investigador defende ainda que, “dada a importância das lentilhas, ervilhas e feijão-frade para consumidores e agricultores em Portugal, os dados gerados terão um considerável impacto económico”. A elucidação da base genética da domesticação de plantas abre ainda a possibilidade de introduzir novas culturas que poderão ser domesticadas de raiz, incluindo espécies do género Azolla, Apios americana, Thinopyrum intermedium ou a alga marinha Saccharina japónica”.

Este projeto de investigação enquadra-se no objetivo 2, “Erradicar a fome”. Até 2030, a meta será garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas resilientes, que aumentem a produtividade e a produção, que ajudem a manter os ecossistemas, que fortaleçam a capacidade de adaptação às mudanças climáticas, às condições meteorológicas extremas, secas, inundações e outros desastres, e que melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo.

“Ao vermos como comunidades no passado criaram sistemas agrícolas que duravam séculos, e ao valorizar as tais variedades tradicionais e selvagens, estamos a tornar a produção alimentar mais sustentável (objetivo 12). Estabelecemos parcerias com universidades e empresas de melhoramento agrícola na Europa e em África e a colocação de dados genómicos em bases de dados de livre-acesso ajudam a implementar no terreno o conhecimento gerado (objetivo 17)”, conclui o investigador.

Hugo Rafael Oliveira


Hugo Rafael Oliveira é Licenciado em Biologia Aplicada, Mestre em Ciências Arqueológicas, Doutorado em Arqueologia e investigador do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve.