Missa de abertura do ano académico da Universidade do Algarve

 
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Na próxima quarta-feira, dia 28, às 21h00, realiza-se na igreja matriz de São Pedro, em Faro, a missa de abertura do ano académico da Universidade do Algarve (UAlg). Com participação presencial limitada, a eucaristia terá transmissão online na página do Facebook do jornal Folha do Domingo.

A celebração é promovida pela Capelania da UAlg e será presidida pelo capelão, cónego Carlos César Chantre. Incluirá a bênção do traje dos estudantes e pretende ainda acolher os novos alunos da academia.

Mensagem do Cónego Carlos César Chantre

«Bem-vindos à Universidade do Algarve

Ao abrir-se o novo ano letivo de 2020-2021, a Capelania da nossa Universidade saúda, particularmente, os novos alunos, envolvendo também nesta TODA A FAMÍLIA UNIVERSITÁRIA: alunos, professores e funcionários – enfim, todos quantos, de algum modo, se sintam envolvidos neste NOVO CICLO DA VIDA COLETIVA.

NUMA HORA BEM DELICADA em que o homem precisa de acordar para os laços da unidade, como necessária condição para a geral sobrevivência, emergem no horizonte - os mais jovens como poderoso INSTRUMENTO DE ESPERANÇA. 

É justamente com ESTA CONFIANÇA que lhes dou as BOAS-VINDAS e apelo, simultaneamente, aos colegas/alunos mais velhos que sejam fortes numa solidariedade que assente no sentir e no agir fraternos.

  • Quando de longínquos espaços, que são soberba expressão da moderna tecnologia e, ao mesmo tempo, expressão superior de irreverência na poluição da Natureza - irrompe minúsculo, invisível e poderoso vírus,
  • Quando pessoas, instituições e povos poderosos aparecem irmanados com os mais pobres na mesma consciência da fragilidade na luta contra - o minúsculo adversário,
  • Quando, no mundo da ciência, pessoas e instituições, congregam esforços em defesa da vida contra - o poderoso e minúsculo adversário comum,
  • Quando, nesta luta pela sobrevivência, mãos e mentes, todas juntas - ainda se nos afiguram poucas,
  • Quando a Natureza, irmã e amiga, por demais magoada com a postura poluidora dos humanos, se levanta como a reclamar do homem - uma atitude reparadora de perdão.

IMPÕE-SE-NOS O GRANDE DESAFIO PARA A MUDANÇA em várias frentes: na espiritualidade, na cultura, na pedagogia. Um desafio em que o GRANDE MOTOR é a Universidade: mas o papel decisivo nesta MUDANÇA cabe à JUVENTUDE.

“Vós sois – diz o bom Papa Francisco – os construtores indispensáveis desta mudança que já não pode ser mais adiada.”  E põe justamente em paralelo o grito da Terra e o grito dos mais pobres e fragilizados do mundo. 

E lembra que os nossos irmãos e irmãs mais pobres e a nossa mãe terra reclamam de nós uma conversão, cuidar da terra, cuidar da criação. Quem não sabe contemplar a natureza e a criação, também não sabe contemplar as pessoas na sua inteira riqueza. E quem vive para explorar a natureza acaba por explorar as pessoas e por tratá-las como escravas.

Ocorre-me, aqui, a postura sensata, exemplar, do físico Alberto Einstein, ao considerar o BIG BANG que terá ocorrido há 1800 milhões de anos. Esta explosão - reconhece - só pôde dar-se porque, antes da mesma houve matéria que a permitiu. E concluiu, não sem sapiente humildade, o cientista: dêem-lhe o nome que quiserem, mas aqui há uma mente que é preciso reconhecer.

A uma relação de orgulho e de arrogância – oporemos uma postura de moderação e humilde serenidade. A uma sociedade em correria - oporemos a paragem para a admiração do belo. A uma sociedade por demais ruidosa - oporemos o silêncio e a escuta e a meditação. A uma sociedade depredadora da natureza – havemos de afirmamo-nos como decididos guardiões da vida e oporemos a contemplação da harmonia na diversidade da criação. 

E, aqui, acaba de erguer-se enérgica e como testamentária a voz do Papa Francisco, que não resisto a citar. “No mundo atual, esmorecem os sentimentos de pertença à mesma Humanidade; e o sonho de construirmos juntos a justiça e a paz - parece uma utopia de outros tempos. Vemos como reina uma indiferença acomodada, fria e globalizada, filha de uma profunda desilusão que se esconde por detrás desta ilusão enganadora: considerar que podemos ser omnipotentes e esquecer que nos encontramos todos no mesmo barco. Esta desilusão, que deixa para trás os grandes valores fraternos, conduz a uma espécie de cinismo. Esta é a tentação que temos diante de nós, se formos por este caminho dos desenganos ou da desilusão. Nunca são o isolamento e o fechamento, em nós mesmos ou nos próprios interesses, que vão ser o caminho para voltar a dar esperança e para realizar uma renovação – antes o serão a proximidade e a cultura do encontro. O isolamento, não; a proximidade, sim. Cultura do confronto, não; cultura do encontro, sim”. (Carta Encíclica Fratelli Tutti, no seu nº 30)

Este é o desafio que se nos propõe para um grande compromisso: o sabermos assumir a mudança para a defesa da nossa casa comum.

Assim,

A Capelania da Universidade também quer ser parceira neste caminhar ao interior de nós mesmos, na AVENTURA DE MUDANÇA que só vai resultar se vier de dentro.

Contemplar e cuidar: eis duas atitudes que mostram o caminho para corrigirmos e reequilibrarmos, como seres humanos, a nossa relação com a criação. 

Seremos, pois, os guardiões da casa comum, os guardiões da vida e os guardiões da esperança.

PEÇO A DEUS

que, na beleza e na harmonia da relação humana, 
que, no reconhecimento da pessoa e no encanto da riqueza na diferença,
que, no abraço amigo da natureza, nossa irmã e companheira,
POSSAM OS HOMENS TODOS ENCONTRAR, RECONHECER E AMAR O ROSTO AMIGO DE DEUS CRIADOR.
A todos, um abraço solidário da Capelania. 

Outubro de 2020
P. Carlos César Chantre»

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