UAlg Hippocampus

O itinerário pela conservação do cavalo-marinho (género científico Hippocampus) entre duas peças de arte de Bordalo II, através do exercício físico, tem por objetivo aproximar os cidadãos da arte e da ciência, visando a sustentabilidade do nosso planeta.

Descarregar mapa (pdf) do percurso aqui
 

O contributo da Universidade do Algarve para o conhecimento da biodiversidade marinha ameaçada a nível global tem sido muito relevante, exemplo disso é a investigação dedicada ao cavalo-marinho (Hippocampus) - espécie icónica ameaçada.

A UAlg investiga o meio onde os cavalos-marinhos vivem - as pradarias marinhas da Ria Formosa - que são uma infraestrutura azul da maior relevância, pela capacidade de absorver CO2, e contributo para a neutralidade carbónica, considerada no âmbito do Pacto Ecológico Europeu. Na nossa instituição estuda-se a interligação sobre o ambiente marinho e terrestre, na zona envolvente à Ria, monitorizando também os impactos neste frágil ecossistema, nomeadamente a poluição, como a de microplásticos.

O itinerário pela preservação do cavalo-marinho quer ser um lugar de encontro de estudantes, residentes e turistas, através do qual, durante a realização de exercício físico e atividades saudáveis ao ar livre, é possível a observação do belo e sustentável de duas das obras do Bordalo II, integradas num conjunto de cerca de 200 peças de vários metros espalhadas pelos 4 continentes “Big trash Animal collection” Big Trash Animals (bordaloii.com). Uma peça está localizada na Praia de Faro (estilo plástico) construída com resíduos de plástico, apontamentos recolhidos em campanha de voluntariado UAlgV+ e parceiros, com o apoio do Município de Faro, e outra peça no início do percurso no Campus de Gambelas da UAlg (estilo neutral) construída com o mesmo material, mas camuflado com pintura de cor que aproxima da cor da espécie na natureza.

Através do percurso entre obras é também possível compreender o ciclo de vida do cavalo-marinho, dependente da ria e das pradarias marinhas, bem como das ameaças presentes nas zonas envolventes e de que forma todos podemos contribuir para usufruir de um planeta mais saudável. 

O itinerário UAlg Hippocampus  foi suportado pelos projetos Hipposave (Mar2020) e Alimar (Fundo Azul), cujos principais objetivos passam pelo conhecimento, proteção e conservação da espécie, bem como a consciencialização do público em geral para a problemática e impacto do lixo marinho. Mais recentemente, o projeto Sustainable Horizons (União Europeia-Horizonte Europa - http://bluecampus.irradiare.eu/) preconiza um reforço da ligação da ciência à sociedade usando este percurso como exemplo da ligação dos cientistas, aos estudantes de grau inicial e ao cidadão em geral, no cumprimento dos ODS 2030 das Nações Unidas.

O itinerário de 8 km é um projeto interdisciplinar que reúne áreas da Biologia Marinha, Desporto, Ambiente, Saúde, Química, Arte e contributos efetivos dos cidadãos, que recolheram parte do lixo marinho usado nas obras de arte.  Apresenta 5 painéis com QR code com informação científica que permitem uma profunda reflexão sobre esta espécie ameaçada, seu habitat e a sua enorme sensibilidade aos impactos e à degradação ambiental na Ria formosa.

 

 

Itinerário Cavalos-marinhos da Ria Formosa. Conhecer. Proteger. Conservar. Proposta Universidade do Algarve

A UAlg realiza no Centro de Ciências do Mar uma das mais exaustivas investigações sobre estas espécies de cavalos-marinhos presentes na Ria Formosa, que se assinala aqui junto ao início do itinerário com a 1º obra de Bordalo II (estilo neutral - Neutral (bordaloii.com))

Devido à sua aparência única, os cavalos-marinhos desde sempre inspiraram a imaginação humana, o que os transformou em criaturas rodeadas de algum mistério. Pela sua morfologia, marcadamente diferente das demais espécies de peixes e com os seus hábitos de vida peculiares leva a que tenham uma enorme afinidade e dependência para com o seu habitat e, por consequência, uma enorme sensibilidade aos impactes e à degradação ambiental a ele causados.

Na Ria Formosa, onde no início deste século foram registadas grandes populações das duas únicas espécies europeias de cavalos-marinhos, o cavalo-marinho de focinho comprido (Hippocampus guttulatus) e o cavalo-marinho de focinho curto (H. hippocampus) a sua ocorrência está hoje, menos de duas décadas decorridas, seriamente ameaçada por uma conjugação de fatores de origem antropogénica, onde a pesca ilegal e a degradação ambiental são sem dúvida as principais ameaças.

Conhecer melhor a sua biologia e ecologia, ao mesmo tempo que se determinam e se aplicam mecanismos de conservação que permitam a sua salvaguarda, têm sido os objetivos da investigação desenvolvida na Universidade do Algarve sobre estas espécies. A sua conservação adquiriu por isso um carácter de urgência, tornando-se imperativo tomar medidas conjuntas que impeçam o seu desaparecimento e não se tornem, aí sim, criaturas míticas de um passado distante.

1º Painel - Os cavalos marinhos e a investigação

O alerta para a salvaguarda do cavalo-marinho necessita ser lançado em terra, pois a poluição que se faz em terra termina quase sempre no mar. Junto a este painel, situa-se uma atividade industrial e muitas outras existem na zona natural da Ria Formosa que necessitam de ser bem geridas de forma a minimizar os impactos da poluição.

Os cavalos-marinhos têm como habitat os canais de maré e as pradarias marinhas da Ria Formosa, que faz fronteira entre o mar e a terra e constitui um ecossistema dinâmico onde se estabelece uma interação direta entre a zona húmida e a zona terrestre envolvente. Através da bacia de drenagem adjacente, a Ria Formosa recebe de forma natural, águas de escorrência que transportam nutrientes dissolvidos vitais, que são integrados no sistema trófico através da rede microbiana, dos produtores primários, algas e as plantas aquáticas. No entanto, estas mesmas águas de escorrência podem ser uma ameaça para os cavalos-marinhos, por transporte direto de componentes poluentes químicos dissolvidos e lixo marinho particulado, como os plásticos e microplásticos que se integram na rede trófica causando um impacte negativo em todas as espécies aquáticas. Desta forma, os usos que a sociedade faz das zonas envolventes da Ria Formosa onde vivem os cavalos-marinhos têm grande impacto na sua sobrevivência.

Os cavalos-marinhos alimentam-se exclusivamente de pequenos crustáceos que capturam permanecendo imóveis e caçando-os por emboscada. As suas presas fazem, por seu turno, parte dos primeiros níveis da rede trófica, o zooplâncton, muitas vezes com dimensões semelhantes a microplásticos (que são ingeridos como alimento) pelo que, indiretamente, os cavalos-marinhos, tal como muitas outras espécies existentes na Ria Formosa, são todas elas afetadas pela poluição produzida em ambiente terrestre.

2º Painel - Os cavalos marinhos e os impactos que circundam a Ria Formosa

As pradarias marinhas são bancos extensos de ervas submersas, com importante capacidade de absorção do CO2, créditos de carbono azul, com grande potencial de contribuir para atingirmos a neutralidade carbónica em 2050. As pradarias da Ria Formosa criam habitats únicos, produtivos e complexos que contribuem para a saúde de todos, quer dos seres humanos, quer das espécies que acolhem, como as duas espécies de cavalos-marinhos (Hippocampus guttulatus e H. Hippocampus). Estes icónicos organismos dependem das ervas marinhas e da sua estrutura complexa, para se camuflarem, protegerem, capturarem presas enquanto se fixam às folhas pelas caudas preênseis, evitando serem arrastados pelas fortes correntes. O projeto HIPPOSAVE inclui também ações de requalificação ambiental em áreas designadas e inclusas às duas Áreas Marinhas Protegidas, recentemente criadas no âmbito do projeto e integradas no plano de salvaguarda e conservação destas espécies.

As salinas da Ria da Formosa, como as que se avistam deste painel, albergam também algumas espécies de ervas marinhas com estatuto de proteção (género Ruppia) e a manutenção e recuperação destas infraestruturas abandonadas contribuirá também para a saúde do cavalo-marinho e do ecossistema Ria Formosa.

As áreas de ervas marinhas na Ria formosa têm desaparecido devido a pesca ilegal de bivalves com artes ilegais (ganchorra), barcos de pesca e de turismo com âncoras, dragagens, blooms de algas sazonais (Ulvas) e algas competitivas invasoras (Caulerpa).

3º Painel - Os cavalos marinhos e as pradarias da Ria Formosa

Na zona do canal da Ilha de Faro, 4º ponto deste itinerário, já com ampla visão para as zonas principais da ria, avistam-se pradarias subaquáticas onde já existiu uma grande densidade de cavalos-marinhos.

Estes animais, que não se observam com facilidade, com estratégias de camuflagem relevantes, como já se descreveu no painel anterior, têm hábitos de vida peculiares, eles formam casais duradouros, onde é o macho que cuida e protege a sua prole dentro de uma bolsa no abdómen até à eclosão dos ovos.

A época de reprodução decorre entre os meses de maio a agosto, demorando cada ciclo reprodutivo aproximadamente um mês. Possuem uma baixa fecundidade, produzindo apenas 200 a 400 juvenis por postura, dos quais a grande maioria não sobrevive por efeito da predação ou da falta de alimento.

Possuindo uma fraca capacidade de natação, permanecem imóveis durante a maior parte do tempo, enquanto se fixam com a sua cauda preênsil às ervas marinhas de que dependem, ou mesmo outras estruturas no fundo.

Os cavalos-marinhos habitam as zonas de baixa profundidade da ria, como as que se avistam daqui, dependem destes habitat de maior complexidade estrutural para se fixarem, camuflarem e obterem alimento.

4º Painel - Os cavalos marinhos e a biologia e ecologia

O percurso termina aqui, junto ao 2 painel de Bordalo II, em estilo  Plastics (bordaloii.com) e simboliza a grande sensibilidade destas espécies às alterações globais, antropogénicas  e climáticas. Os cavalos-marinhos são considerados espécies representativas do ecossistema em que vivem e indicadores da qualidade ambiental.

A contínua diminuição destas espécies de cavalo-marinho, a que se assiste nos últimos anos, é reveladora do forte impacte exercido pela ação humana na Ria Formosa. Esta ação integra um conjunto de atividades que incluem a navegação e consequente poluição sonora sub-aquática, ancoragem de embarcações, degradação ambiental de origem múltipla e a pesca ilegal.

Destas, a pesca ilegal é a que exerce um maior impacte, quer direto pela captura de cavalos-marinhos e de muitas outras espécies para consumo humano, quer indireto, onde a utilização de artes de pesca ilegais de arrasto provoca uma alteração continuada na estrutura do fundo da Ria Formosa, e com isso, dos habitat onde estas espécies ocorrem.

Globalmente, a pesca ilegal induz uma elevada perda de biodiversidade marinha, onde os cavalos-marinhos são apenas uma das muitas espécies afetadas e, de igual forma, compromete a sustentabilidade do ecossistema da Ria Formosa e do Planeta em geral.

No entanto, para que ainda seja possível reverter esta situação ações conjuntas a nível de sociedade e individual poderão ser cruciais para a salvaguarda do cavalo-marinho, da Ria Formosa e do Oceano global.

5º Painel - Os cavalos marinhos e as alterações globais - climáticas e antropogénicas